Ansiedade na Infância e Adolescência
Atualizado: 11 de mai.
O Brasil é conhecido como um dos países com maior nível de ansiedade do mundo. Podemos dizer que já sofremos de uma epidemia de ansiedade muito antes da pandemia do Covid-19.
Segundo informações da Organização Mundial da Saúde, o Brasil já tinha um número enorme de pessoas ansiosas em 2019, isto é, 18,6 milhões de brasileiros (9,3% da população) já conviviam com o transtorno (muuuita gente).
Uma pesquisa mais recente, realizada pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) nos meses de maio, junho e julho de 2020, revelou que 80% da população brasileira tornou-se mais ansiosa durante a pandemia do novo coronavírus.
Eu mesmo lembro que logo ali nas primeiras semanas, quando tudo parou no Brasil, fui tomado por sensações intensas de medo e ansiedade, geradas por toda aquela sensação de incerteza: "o que é esse vírus?", "até quando a quarentena vai durar?", "teremos vacina?".
Todo o caos daquele momento fez com que muitas pessoas procurassem serviços psicológicos. Segundo informações do Google, na semana de 29 de março a 4 de abril de 2020, quando a maioria dos estados brasileiros já havia decretado quarentena, a busca por atendimento psicológico na plataforma chegou a 88%.
A ansiedade é um sentimento de inquietação, como preocupação ou medo, que pode ser leve ou grave. No entanto, é importante lembrar que a ansiedade em si não é o problema. O que deve trazer preocupação (para você ver que nem toda preocupação é ruim) é quando essa ansiedade está em excesso.
Todo mundo tem sentimentos de ansiedade em algum momento da vida. Por exemplo, você pode se sentir preocupado e ansioso em fazer uma entrevista de emprego, ao ter de conversar algo delicado com seu filho, tirar a habilitação ou o próprio medo de pegar Covid. Em momentos como estes, sentir-se ansioso (foca aqui) pode ser perfeitamente normal.
O que pode sinalizar um problema é que algumas pessoas têm uma dificuldade maior para controlar suas preocupações, ou seja, elas são constantemente quase que invadidas por pensamentos de preocupação e de medo, por vezes sem muito sentido ou ligação com a realidade (é só pensar em quantas das suas preocupações realmente aconteceram). Seus sentimentos ansiosos são mais constantes e muitas vezes podem afetar tarefas comuns do dia a dia, como na realização de uma prova ou evitando uma conversa importante.
Mas como a ansiedade se manifesta nas crianças e adolescentes?
Na infância, é comum que os pequenos se assustem com barulhos e chorem com animais estranhos, medos que tendem a diminuir conforme crescem. O fato é que, desde bem pequenos, já nascemos com uma predisposição natural para sentir medo das coisas ou evitar situações percebidas como ameaçadoras.
Podemos entender que a ansiedade é, então, uma reação universal (ou seja, que todo mundo sente) quando estamos lidando com situações que podem ser perigosas ou percebidas como perigosas.
As reações da criança e do adolescente diante dessas situações se manifestam de quatro formas principais: nos pensamentos, nas emoções, nas reações fisiológicas e no próprio comportamento.
Vamos imaginar um adolescente de 14 anos. Ele dormiu até mais tarde a semana inteira jogando games e foi mal nas avaliações da escola. Agora, recebe uma mensagem da mãe dizendo "preciso conversar com você". A partir desse momento, ele começa a tremer dos pés à cabeça. Caso o jovem perceba essa situação como uma ameaça, pode ter o seguinte pensamento: "Minha mãe vai falar um monte, vai me deixar de castigo, estou ferrado?". Esse pensamento aumenta sua ansiedade e medo, gerando reações fisiológicas, como aumento no batimento cardíaco, e tudo isso pode intensificar suas emoções, resultando em comportamentos como mentir ou não voltar para casa tão cedo.
É importante lembrar que o medo e a ansiedade são comuns ao longo da vida e funcionam como um fator de proteção. Tanto as crianças quanto os adolescentes precisam aprender a lidar com vários desafios ao longo do crescimento. Seja aos sete meses, quando um bebê chora ao estar com pessoas estranhas, aos seis anos, quando precisa lidar com o ambiente desconhecido da escola, ou aos 15, quando precisa entrar no ensino médio e já começar a pensar na escolha profissional.
A maioria dessas situações traz o que chamamos de ansiedade natural. O problema está na intensidade, duração e frequência dos sintomas, que podem indicar possíveis distúrbios de ansiedade. Esses distúrbios se manifestam como reações de medo, preocupação ou pavor desproporcionais à situação, prejudicando as habilidades funcionais normais da criança e do adolescente. Ou seja, podemos perceber algo mais grave quando a ansiedade prejudica as atividades do dia a dia, como os estudos, as relações e assim por diante.
Durante a infância, cerca de 10% a 15% das crianças experimentam algum transtorno de ansiedade, e essas crianças têm um maior risco de desenvolver depressão e ansiedade mais tarde na vida. Portanto, é fundamental ficar atento aos possíveis sintomas e buscar ajuda imediatamente.
E quanto ao tratamento?
O tratamento para ansiedade é realizado de acordo com a intensidade dos sintomas e as necessidades de cada criança ou jovem. Embora os sentimentos de ansiedade em certos momentos sejam completamente normais, um psicólogo especialista em crianças e adolescentes pode ajudá-los a lidar com as preocupações, medos e emoções que estão causando perturbação. Geralmente, os terapeutas cognitivo-comportamentais são os mais recomendados para esses casos.
Com o tratamento adequado, eles conseguem controlar melhor seus níveis de ansiedade e ter uma vida com mais bem-estar. Não deixe de buscar ajuda profissional, pois é possível superar a ansiedade e viver uma vida mais tranquila e saudável.
