Ansiedade de Separação

Durante os primeiros anos de vida, é natural e esperado que as crianças pequenas tenham comportamentos de frustração, raiva e choro, ao terem de se separar das pessoas em quem confiam. Também é comum que passem por fases mais “pegajosas” em que demandam mais atenção e presença dos pais e cuidadores.
Por isso, ter algum nível de ansiedade de separação faz parte do processo normal de desenvolvimento e a maioria consegue superar essa dificuldade por volta dos 3 anos. No entanto, apesar de a maioria conseguir sair bem dessa fase, para algumas, o problema pode se agravar.
Senso de permanência de objeto
Antes dos 4 meses, os bebês entendem que o que existe é aquilo que conseguem ver, isso muda por volta dos 4 ou 7 meses, quando desenvolvem o senso de" permanência de objeto”. Isso significa que elas começam a perceber que as coisas e as pessoas existem mesmo quando estão longe do seu campo de visão. Após conquistarem essa habilidade, os bebês aprendem que se os pais não estão próximos, isso pode significar que foram embora, o problema é que, com uma noção temporal não bem desenvolvida, eles não têm certeza se os cuidadores voltarão. Após os 8 meses ou 1 ano, as crianças crescem e ganham mais independência, mas ainda estão aprendendo a lidar com a separação dos pais. É nesse momento que a ansiedade de separação, pode entrar em cena.
O período em que essa ansiedade dura é individual, algumas crianças podem passar por isso mais tarde, entre 18 meses e 2 anos e meio. Alguns nunca a experienciam, a situação pode ser pior para aqueles que possuem outros fatores de risco, tais como: divórcio dos pais, mudanças repentinas, um novo irmão, ou conflitos em casa, nesses casos o problema pode ser intensificado.
O que é ansiedade de separação?
A ansiedade de separação é definida como “preocupação inapropriada, excessiva, persistente e irrealista com a separação das figuras de apego” (DSM-V).
Acredita-se que até 4% das crianças sofrem com ansiedade de separação. Walkup, J.T., (2008)
Quais são os sinais?
Crianças com transtorno de ansiedade de separação sentem uma ansiedade maior que o normal quando precisam estar distantes de alguém que possuem forte ligação emocional e afetiva. Alguns sintomas que os pais podem perceber são:
Ansiedade por estar longe de um cuidador importante sendo em excesso e não típico para a idade da criança;
A ansiedade é persistente e dura pelo menos 4 semanas;
A criança ou adolescente sofre consequências negativas devido à sua ansiedade, podendo interferir na escola, no trabalho ou nas amizades;
Dificuldade em dizer “tchau” ou se despedir dos pais;
Acredita que algo ruim irá acontecer com a pessoa distante enquanto estiverem separadas;
Ataques de raiva quando precisam se separar;
Necessidade exagerada e constante de saber onde a pessoa está;
Seguir os pais onde eles estiverem pela casa;
Sintomas físicos quando sabe que precisará estar separado da pessoa; como dores de estômago, dores de cabeça e tonturas;
Os problemas não são melhor explicados por outra razão ou outra forma de ansiedade.
O sentimento dos pais/cuidadores
Esse comportamento do filho pode desencadear uma mistura de emoções nos pais, desde sentimentos positivos, visto que se percebe que a criança está emocionalmente conectada, mas também sentimentos de culpa (por deixar o filho chorando, por exemplo) ou ainda se ver sobrecarregado na tentativa de suprir a necessidade de atenção da criança.
Quão comum é a ansiedade de separação em crianças e adolescentes?
A ansiedade de separação é de fato tão comum em crianças pequenas que é considerada uma parte normal do desenvolvimento infantil. Por esse motivo, em geral, nos referimos sobre ansiedade de separação em crianças até 6 anos e não como um transtorno de ansiedade.
Quais as causas?
Não há uma única causa, o que existe é uma combinação de fatores genéticos e ambientais que parecem tornar algumas crianças mais vulneráveis do que outras. Algumas nascem com um temperamento mais sensível, assim como podem herdar esses traços ansiosos de seus pais.
Situações estressantes como traumas, também podem influenciar no desenvolvimento do transtorno, especialmente eventos envolvendo a separação repentina dos pais, ou ainda, a perda de um familiar que pode tornar a criança mais apegada aos familiares vivos.
Conforme descreve Child Counseling in Davidson:
“Tanto a genética quanto o ambiente são geralmente os culpados pela ansiedade de separação. Se seu filho tem um temperamento naturalmente ansioso, ele pode conseguir lidar muito bem enquanto a vida permanecer calma. No entanto, uma grande mudança pode realmente ativar sua ansiedade, e crianças sensíveis podem ter mais dificuldade em lidar com isso. Essas crianças podem tentar lidar com sua ansiedade não se separando de seus pais”.
Dicas práticas para tornar as despedidas menos complicadas:
Respeite o tempo da criança: evite colocá-la na creche ou deixá-la com algum desconhecido (como uma nova babá) entre os 8 meses e 1ano, pois é nesse momento que estão mais vulneráveis para a ansiedade de separação. Também evite deixá-los, quando eles estiverem cansados, com fome ou inquietos. Nesse caso é importante organizar a sua agenda conforme a rotina da criança, sempre que possível.
Se separe gradualmente: busquem gradualmente se separar um do outro e apresente novas pessoas, pouco a pouco, até que a criança vá se acostumando com a nova figura. Por exemplo, se você precisa deixá-lo com uma nova babá, convide ela para passar um tempo enquanto você ainda está com ele e brinquem juntos. Se estão indo para uma nova escola, fazer algumas visitas antes da aula iniciar pode ser uma boa iniciativa. A ideia é que a criança vá gradualmente se acostumando a ficar longe de você.
Seja calmo e consistente: crie um ritual de despedida, em que você diz "tchau" em um tom carinhoso e firme. É importante manter a calma e transmitir essa calma e firmeza para o filho. Sempre que necessário, lembre-o que você irá voltar, deixando claro quando isso irá acontecer (depois do almoço, por exemplo). Na despedida, esteja por inteiro, dê total atenção, e quando sair, saia de fato, voltar quando a criança começar a chorar, não ajudará.
Cumpra suas promessas: aqui é essencial cumprir com o horário prometido para o retorno, deixar a criança esperando pode piorar o problema, enquanto o cumprir da palavra irá ajudar a desenvolver a confiança de que ele ou ela precisa para lidar com os momentos de separação.
Considere um objeto de transição: o objeto pode ser uma boa ferramenta nesse processo, e serve não apenas para crianças pequenas, algumas ideias são fotos da família, brinquedos, ou ainda um colar seu, que será como um símbolo de como você está sempre com ele de alguma maneira.
De acordo com Michelle Curtin, pediatra do Riley Hospital for Children na Indiana University Health, é fundamental que os pais também busquem por um terapeuta experiente, segundo Curtin:
“Para crianças menores de 8 anos, a terapia pode envolver trabalhar com os pais e a criança sobre como gerenciar a angústia da criança [...] Com os filhos mais velhos, os pais ainda são importantes, mas a participação direta deles diminui. Na terapia as crianças aprendem a mudar a forma como pensam sobre seus medos."
REFERÊNCIAS
https://www.rileychildrens.org/connections/older-kids-and-separation-anxiety-how-it-happens-and-what-to-do
https://childmind.org/guide/separation-anxiety-disorder/
https://kidshealth.org/en/parents/sep-anxiety.html https://www.clinical-partners.co.uk/child-adolescents/a-z-of-issues/teenage-and-child-anxiety-support/separation-anxiety
https://www.katielear.com/child-therapy-blog/2021/1/16/signs-of-separation-anxiety-in-children
https://www.katielear.com/child-therapy-blog/2021/1/16/signs-of-separation-anxiety-in-children