ANSIEDADE NA ADOLESCÊNCIA - CAUSAS, SINAIS & TRATAMENTO.

Como identificar um problema de ansiedade em adolescentes? Quais são as principais causas e sinais?
A adolescência é o momento em que a maioria dos problemas psicológicos aparecem, sendo os transtornos de ansiedade os mais comuns, pesquisas atuais dizem que mais de 30% dos jovens têm algum transtorno de ansiedade, ou seja, um em cada três adolescentes.
A ansiedade no entanto, é uma reação natural que surge diante de uma situação percebida como desafiadora, desconhecida ou estressante. Se sentir ansioso pode inclusive ajudar a evitar que os adolescentes caiam em armadilhas, ajudando-s a pensarem duas vezes antes de fazer alguma coisa. Também pode levá-los a se preparar, para uma apresentação de trabalho, prova ou um jogo de futebol, por exemplo.
Mas como identificar que há um problema mais grave? Segundo o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-V):
“Os transtornos de ansiedade incluem transtornos que compartilham características de medo e ansiedade excessivos e perturbações comportamentais relacionados. Medo é a resposta emocional a ameaça iminente real ou percebida, enquanto ansiedade é a antecipação de ameaça futura”.
Por isso é importante estar atento para a frequencia, duração e intensidade dos sintomas. Porém, apesar de os transtornos de ansiedade estarem entre os problemas de saúde mais comuns nessa faixa etária, apenas 18% dos adolescentes ansiosos são levados para algum tratamento.
Como a ansiedade afeta os adolescentes?
Os principais sinais são:
Se sentir agitado, tenso ou inquieto o tempo todo;
Ter sinais físicos, como tensão nos músculos, aceleração dos batimentos cardíacos, suor, dor de cabeça, dores de estômago ou falta de ar;
Ter pensamentos irracionais e sempre negativos;
Sempre esperando que o pior aconteça;
Comportamento de evitação de situações difíceis ou novas;
Insônia.
Algumas características que diferem a ansiedade do adulto para o adolescente, é que os jovens costumam apresentar mais manifestações comportamentais e fisicas de ansiedade do que cognitivas.
As 10 principais causas de ansiedade em adolescentes
A primeira está relacionada as características do cérebro adolescente, estudos mostram que a parte que ativa as emoções, chamada de sistema límbico (onde está localizada a amigdala) tem uma interação com o córtex pré-frontal, responsável entre outras coisas, pelo autocontrole, o problema é que essa interação demora a se desenvolver; sendo que alguns estudos dizem que essa conexão estará completa apenas depois dos vinte anos. Essa característica pode deixar o adolescente mais vulnerável ao estresse, ansiedade e a dificuldade em controlar suas emoções.
.Uma segunda causa, são as intensas mudanças desse período, que trazem novos desafios, responsabilidades e necessidades, e tornam os jovens mais conscientes dessas mudanças, tal movimento pode fazer com que o cérebro busque estar mais ativo contra “potenciais ameaças”, e claro isso pode potencializar a ansiedade, que, na verdade é isso, uma tentativa da amígdala (a parte do cérebro envolvida na ansiedade) de dizer que algo novo/desconhecido está acontecendo e eu preciso estar preparado para me defender ou lidar com isso. Esse processo ativa o mecanismo LFP, ou seja, luta, fuga ou paralisação, qualquer situação que o cérebro do adolescente entenda como possível risco, por exemplo: mudança para uma nova escola, separação dos pais, apresentação em público, fim de um relacionamento, julgamento dos outros, podem ser percebidas como ameaças, ativando os gatilhos de ansiedade.
Uma terceira causa são as altas expectativas ou as pressões dos pais e professores. Muitos adolescentes dizem em terapia que seus pais e escolas colocam sobre eles expectativas irrealistas, o que resulta no aumento da ansiedade, do medo da falha e do fracasso. Outras vezes a pressão é do próprio jovem, é comum que o adolescente esteja tão focado nos estudos, nas provas, nos resultados que deseja alcançar, que ele gera nele mesmo, o aumento da ansiedade. Obviamente ter um planejamento de futuro é importante, mas em excesso, pode trazer ainda mais problemas.
Nós podemos entender a ansiedade também, como sinal de um cérebro que está ficando mais tempo no futuro do que deveria, impedindo o jovem de viver o momento presente. Isso pode desencadear a crise dos “e ses” “e se não der certo?”, “e se eu não passar nessa prova?” “e se eu decepcionar meus pais/professores/amigos?”, “e se eu nunca mais conseguir uma (um) namorada (o)?".
A pressão dos amigos é uma quinta possibilidade, os adolescentes sentem a necessidade de fazer parte do grupo, de entender que são “normais”, e muitas vezes terão comportamentos que normalmente não teriam, para poder se encaixar com seus colegas. Essa pressão e esse medo da rejeição, podem causar ansiedade.
A sexta causa vem de transformações hormonais. Apesar de mudanças nos hormônios serem naturais em todas as fases da vida, em nenhuma fase essas mudanças são tão intensas quanto na adolescência. Os corpos dos adolescentes estão em um turbilhão e esse processo pode trazer problemas como a ansiedade.
Uma sétima causa são os fatores genéticos. Filhos de pais com transtornos de ansiedade tem 7 vezes mais chances de serem diagnosticados com esse transtorno em comparação com filhos de pais sem o transtorno.
A oitava é o ambiente e a relação com os pais e família, comportamentos negativos dos pais, incluindo quando são super protetores, ou manifestam rejeição, criticas extremas, brigas e conflitos podem causar o problema. Uma criança ou adolescente pode desenvolver ansiedade a partir de experiências de vida desagradáveis. Ansiedade também pode ser resultado de traumas físicos ou emocionais, como abuso, perdas ou desastres naturais. A insegurança econômica, violência, e toda onda de insegurança do mundo moderno, também tem seu papel.
Uma 9° causa são as redes sociais, estudos descobriram uma possível conexão entre o aumento da popularidade das mídias sociais e o aumento de transtornos psicológicos, como a ansiedade entre adolescentes. O que nós percebemos é que o uso excessivo das redes sociais pode aumentar as comparações que os adolescentes naturalmente já fazem deles mesmos, da sua aparência e características, com aquilo que observam nas mídias, o que pode trazer baixa autoestima e sentimentos de inadequação.
A dica aqui é ajudar o adolescente a entender que uma foto, um vídeo, um reels, representam um momento, não um dia, não um fim de semana, e com certeza não uma vida. A chave é ajudar esse adolescente a manter sempre em mente que existem milhares de filtros e que obviamente, em geral, as pessoas só postam a parte boa, o que está dando ibope, o que as pessoas querem ver, o que com certeza não representa toda realidade.
Uma 10° possível causa, são os maus hábitos de sono. O recomendando é que os adolescentes durmam de 8 a 10 horas de sono por noite, mas apenas 15% dos adolescentes relatam uma média de 8 horas ou mais de sono. Isso acontece devido às horas a mais usando eletrônicos, como videogames e celular. Para piorar o problema, a parte do cérebro mais sensível à falta de sono é a amígdala, que como vimos está diretamente ligada as emoções como a ansiedade. Sempre que a amígdala encontra uma possível ameaça no ambiente, ela libera o mecanismo de luta, fuga ou paralisação, se há uma ameaça, isso é ótimo, mas quando não, esse mecanismo ajuda a intensificar a ansiedade. É claro que isso vai impactar no sono, porque um cérebro cansado terá muito mais dificuldade em entender o que é uma ameaça real, do que não é, o que pode fazer com que ele acione o“ botão de ameaça” mais do que deveria.
Seja qual for a causa, esse aumento da ansiedade é um problema real para nossa juventude. A ansiedade quando não tratada pode trazer sérios problemas como depressão, uso de drogas e até suicídio. Pode interferir na capacidade de concentração, pode atrapalhar inclusive o rendimento escolar.
“Sabemos agora que a ansiedade é um marcador— uma porta de entrada para uma série de outros transtornos de saúde mental” — Philip Kendall, PhD
Como podemos ajudar?
1° Esteja ciente dos sinais de ansiedade. Às vezes, os adolescentes vão dizer que estão ansiosos, mas nem sempre, por isso é importante ficar de olho para os sinais que falamos aqui, principalmente:
Medos e preocupações frequentes;
Problemas na escola, rendimento e faltas;
Problemas para dormir ou se concentrar;
Reclamações de dores físicas constantes, que nem sempre possuem uma causa aparente.
2° Reveja as expectativas que você coloca em seus adolescentes. É bom que os jovens percebam que acreditamos neles, que temos altas expectativas sobre o potencial de cada um, mas essas expectativas não podem ser surreais ou irrealistas.
3° Reconheça e valide o medo do seu filho – não descarte ou ignore. É importante para eles sentirem que você os leva a sério e acredita neles.
4° Encoraje seu filho a fazer as coisas que eles estão ansiosos, mas não o obrigue, cada jovem tem seu próprio tempo, e isso precisa ser respeitado, o que vocês podem fazer é ajudá-los a estabelecerem micro metas para irem enfrentando os medos gradualmente, por exemplo, se seu filho está ansioso com uma avaliação que ele fará na escola, motive-o a fazer simulados em casa, para ir reconhecendo os sinais de sua ansiedade e utilizando as estratégias de regulação emocional.
5° Valorize os pequenos avanços, mesmo que o jovem não tenha conseguido cumprir 100% da sua meta para enfrentar seus medos, reconheça cada passo, e deixe claro que você acredita que ele conseguirá, e respeita o seu tempo.
6° Busque tratamento, os tratamentos mais eficazes com transtornos de ansiedade são a terapia cognitivo-comportamental (TCC) e os medicamentos SSRI.
A TCC tem como foco a mudança no modo de pensar e agir do adolescente, com relação a seus medos e preocupações, são utilizadas técnicas como a exposição gradual a situações temidas, estratégias de respiração e relaxamento, entre outras.
SSRIs (inibidores seletivos de recaptação de serotonina) – são os medicamentos mais recomendados pelos médicos, é fundamental que o uso desses medicamentos sejam prescritos e acompanhados pelo médico do jovem. Estudos identificaram que a combinação de TCC com medicação por 3 meses produz uma resposta positiva em 80% dos adolescentes com transtornos de ansiedade.
Para concluir lembrem que o mais importante, é jamais subestimar o poder que a relação pai e filho tem na ansiedade do jovem, por vezes eles vão dizer claramente que querem você longe, que não precisam de ajuda, mesmo nesses momentos de resistência, o jovem precisa saber que terá a presença de vocês sempre que precisarem, ou seja, que ele pode ir até vocês, sem medo de ser julgado, que podem encontrar em casa um lugar de segurança e calmaria. Você não precisa ter as palavras mágicas, ou ser o pai mais descolado para ajudar seu adolescente com ansiedade, muitas vezes, tudo o que eles precisam é saber que se precisarem, eles podem ir até você.
REFERÊNCIAS
https://www.heysigmund.com/anxiety-during-adolescence/
https://www.foothillsatredoak.com/teen-recovery-blog/anxiety-in-teens/
https://www.apa.org/monitor/2019/12/combat-anxiety
https://www.healthdirect.gov.au/anxiety-in-teenagers
https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC3916014/