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Depressão na adolescência - Causas, sintomas e tratamento



Durante muito tempo se pensou que crianças e adolescentes não podiam ter depressão, qu estariam de alguma forma ilesos do problema. No entanto, sabemos hoje, que eles são tão vulneráveis ao transtorno quanto os adultos, sofrendo impactos em sua rotina, vida social e acadêmica em decorrência dos sintomas depressivos.


A adolescência é um momento de crescimento, amadurecimento, novos desafios e as mudanças são inevitáveis, tais fatores acabam por se expressar em reações de raiva intensa, irritação e tristeza no dia a dia do jovem. Se você convive com algum adolescente talvez sinta como se estivesse em alerta constante ou andando sobre cascas de ovos em sua própria casa. Para alguns pais, porém, chega um momento em que eles percebem que seus adolescentes estão experimentando algo mais do que os altos e baixos naturais dessa fase. A boa notícia é que hoje temos muito mais informações sobre a depressão do que há alguns anos, milhões de outros pais enfrentam essa luta diária e há muitos lugares de apoio em que você pode buscar ajuda.


No Brasil o problema também é real, segundo o relatório The State of the World’s Children 2021, do Unicef, 22% dos adolescentes brasileiros entrevistados falaram que, em diversos momentos, se sentem deprimidos ou sem interesse em fazer as coisas. Esse dado é um mega alerta, principalmente pela depressão ser um dos principais fatores que levam ao suicídio nesse período. Tais dados se somam com o fato de que a pandemia do covid-19 trouxe impactos significativos na saúde mental de jovens, aqueles que já estavam em uma situação de vulnerabilidade ou já lutavam com algum transtorno mental foram ainda mais impactados.



Qual a diferença entre uma tristeza normal e a depressão?


Todo mundo se sente um pouco para baixo uma vez ou outra, isso faz parte da vida, e na adolescência isso não é exceção. No entanto, a verdadeira depressão é muito mais do que apenas uma “bad vibes” de um dia mau. É uma doença que afeta o cérebro e corpo em todos os níveis - emocional, mental e fisicamente. No livro Saúde Mental na Escola: O Que os Educadores Devem Saber, os autores descrevem que:


"Na adolescência, embora momentos de muita tristeza e de grande irritabilidade ocorram com certa frequência, eles não duram muito tempo, não representam uma mudança evidente de comportamento e não acarretam grande prejuizo. Além disso, a tristeza do adolescente normal costuma ter motivo identificável (muito comum após desilusões amorosas, por exemplo) e não costuma ser acompanhada por pensamentos de morte ou comportamentos de risco muito graves".


Critérios diagnósticos e sintomas


O DSM-V (abreviação de Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, Quinta Edição) é um manual que os profissionais de saúde mental usam para diagnosticar doenças mentais, ele nos ajuda a identificar se os sintomas que o jovem está tendo é de fato uma depressão, ou outro trasntorno, porém é importante estar atento, pois embora existam sintomas comuns que caracterizam a doença, nenhum indivíduo experimenta depressão exatamente da mesma maneira.


A Depressão Maior é caracterizada por episódios distintos de pelo menos duas semanas de duração (embora a maioria dos episódios dure um tempo consideravelmente maior) envolvendo alterações nítidas no afeto, na cognição e em funções neurovegetativas, e remissões interepisódicas. Cinco (ou mais) dos seguintes sintomas estiveram presentes durante o mesmo período de duas semanas e representam uma mudança em relação ao funcionamento anterior; pelo menos um dos sintomas é (1) humor deprimido ou (2) perda de interesse ou prazer.


AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION et al. DSM-5: Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais. Artmed Editora, 2014.



Estas são sintomatologias gerais, para além delas, falando especificamente de adolescentes é importante estar atento a outras "red flags" (bandeiras vermelhas):


  • Diminuição do interesse por amigos e atividades;

  • Dificuldade de concentração;

  • Queda de notas ou faltas frequentes da escola;

  • Queixas de cansaço ou tédio;

  • Sintomas físicos vagos, como dores inexplicáveis;

  • Alterações nos padrões de sono, como insônia ou sono excessivo;

  • Aumento da irritação, hostilidade ou raiva;

  • Explosões de gritos ou choros;

  • Abuso de álcool ou drogas;

  • Dificuldades para se dar bem com os outros;

  • Isolamento social;

  • Hipersensibilidade à rejeição ou falha;

  • Comportamento de autolesão ou ideias suicidas.


Quais são as causas?


De acordo com o Psiquiatra Gustavo Teixeira no livro Manual da adolescência (p. 62):


"A depressão tem origem multifatorial: genética, associada a fatores bioquímicos, hormonais e ambientais".

"Alterações de substâncias químicas do cérebro chamadas neurotransmissores também são encontradas em pacientes com depressão. Nesse caso, a principal hipótese está relacionada ao baixo aporte de serotonina e noradrenalina na fenda sináptica, área de comunicação entre as células nervosas".


"Dados epidemiológicos revelam que caso de depressão na família é fator de risco para o diagnóstico: filhos de pessoas depressivas têm até três vezes mais chance de desenvolver o transtorno durante a vida".

"Outro fator importante para o desencadeamento de episódios depressivos é o grau de estruturação familiar e o ambiente doméstico onde o jovem estudante está inserido".


"Crianças e adolescentes vivendo em lares hostis, desestruturados, com interações familiares estressantes, convivendo com pais agressivos ou negligentes enfrentam maiores chances de desenvolver um quadro depressivo. Inversamente proporcional a isso é que interações familiares saudáveis podem apresentar uma função protetora para episódios depressivos na infância e na adolescência e colaboram para um funcionamento comportamental melhor desse estudante em desenvolvimento'.


O papel da escola na identificação precoce da depressão


A escola tem papel essencial na identificação de crianças e jovens em estados depressivos, isso porque os profissionais conseguem muitas vezes perceber primeiro mudanças no comportamento dos alunos, pelo tempo maior que passam com eles. No livro "Saúde Mental na escola" os autores apresentam algumas sugestões do que fazer em sala de aula para identificar e ajudar:

Estanislau, Gustavo M.; Bressan, Rodrigo Affonseca. Saúde Mental na Escola: O Que os Educadores Devem Saber (p. 136). Edição do Kindle.





Como o estresse afeta a depressão?


Cientificamente falando, o estresse refere-se à resposta natural do corpo a qualquer ameaça percebida — real ou imaginária. A ameaça inicialmente dispara alarmes dentro do cérebro. Em resposta, o cérebro ordena a liberação de certos hormônios que preparam o corpo para lutar ou fugir, o corpo entra então em estado de alerta máximo. Ocorre de forma rápida e pode salvar a nossa vida caso estejamos em uma situação de real perigo, pois nos faz agir de forma rápida. O problema é quando o estresse é frequente ou prolongado, trazendo enorme desgaste físico e psicológico, trazendo a depressão como uma possível consequência. Apesar de nem todos aqueles que sofrem de situações traumáticas, desenvolverem depressão, certos eventos da vida na adolescência realmente podem aumentar o seu risco.



Modelo cognitivo da depressão:


Na Terapia Cognitiva Comportamental, entendemos que a tríade cognitiva é uma das explicações para o problema, o que seria isso? A tríade cognitiva fala sobre a visão e crenças que o indivíduo tem sobre ele mesmo, sobre o mundo ou outras pessoas e sobre o futuro. O que ocorre na depressão é que a pessoa possui uma visão negativa nesses três aspectos:


  • Visão negativa de si mesmo: é comum que o paciente depressivo se veja como incapaz e inadequado, indesejado, sem valor. Colocam a culpa dos seus sintomas e sentimentos negativos a um problema moral, físico ou psicológico dele, culpando a si mesmos de forma extrema.


  • Visão negativa do mundo e das outras pessoas: aqui há uma tendência da pessoa depressiva de interpretar suas experiências de uma forma pessimista, vê o mundo como um lugar que o pressiona além de sua capacidade, ou apresentando desafios impossíveis de serem superados. É comum que ele veja até mesmo situações positivas, como uma boa nota, de forma negativa “a prova estava fácil, na próxima vou rodar”.


  • Visão negativa do futuro: ele entende que seus problemas atuais irão durar para sempre, que não há saída para sua situação, antecipando que as coisas darão errado e nem vale a pena tentar. O modelo cognitivo da depressão entende que os demais sintomas depressivos, surgem na maioria devido à ativação desses padrões de pensamento negativo. Ex. Se o paciente pensa incorretamente, que será rejeitado, ele tende a reagir de forma que acaba reforçando isso, isolando-se ou ficando triste, o que por consequência piora o problema. O desânimo e falta de engajamento para realizar atividades vem da visão pessimista e da desesperança. Se eu já espero que tudo vá dar errado, por que começar?

Os pensamentos suicidas podem ser compreendidos como uma expressão extrema de um desejo de escapar do que ele entende como um problema sem solução, ou uma experiencia insuportável, como ele se vê como um fardo, pode pensar que a outras pessoas estariam melhor sem ele.


O DSM V reforça essa ideia ao dizer que: “o sentimento de desvalia ou culpa associado com um episódio depressivo maior pode incluir avaliações negativas e irrealistas do próprio valor, preocupações cheias de culpa ou ruminações acerca de pequenos fracassos do passado. Esses indivíduos frequentemente interpretam mal eventos triviais ou neutros do cotidiano como evidências de defeitos pessoais e têm um senso exagerado de responsabilidade pelas adversidades (culpabilização)”.




Tratamento da Depressão


A depressão é uma doença grave que exige muita atenção. Requer um plano de tratamento que seja individualizado para atender as necessidades únicas do adolescente. Um plano abrangente inclui psicoterapia e educação sobre a doença, assim com a utilização de medicamentos antidepressivo que devem ser utilizado apenas com recomendação medica.


O tratamento com maior número de evidencias de eficácia é a combinação do acompanhamento psiquiátrico e o uso de medicação antidepressiva (especialmente a fluoxetina/Prozac)e a psicoterapia em Terapia Cognitiva Comportamental. A psicoterapia cognitiva foca em ajudar o jovem a entender e reconhecer seus sintomas depressivos (psicoeducação) ajudando o durante as sessões na reestruturação da sua maneira d pensar e, por consequência, sentimentos e ações também são modificados. Por entender que é a visão distorcida de si, do mundo e do futiro, um dos grandes mantenedores do problema, trabalhamos para ajudar esse jovem a enxergar esses padrões distorcidos de pensamentos e interperações, tendo uma maior flexibilização em seu modo de pensar e agir, o que é feito por meio detecnicas e tratamentos por um profissional especializado.



Alguns fatos importantes:


Depressão é comum e afetará até 6% dos jovens a qualquer momento.
Depressão é muito mais comum em adolescentes do que em crianças.
A Depressão na adolescência representa alto risco para depressão na idade adulta.
Há em geral comorbidades, ou seja, outros problemas além da depressão, como ansiedade, problemas de comportamento e TDAH.
Existem múltiplos caminhos para o desenvolvimento da depressão com fatores bioquímicos, genéticos, familiares e ambientais, ela não ocorre por um fator isolado.


Referencias:


Teixeira, Gustavo. Manual da adolescência (p. 62). BestSeller. Edição do Kindle.


https://saude.abril.com.br/coluna/com-a-palavra/depressao-na-adolescencia-precisamos-falar-mais-sobre-ela/


Estanislau, Gustavo M.; Bressan, Rodrigo Affonseca. Saúde Mental na Escola: O Que os Educadores Devem Saber (p. 136). Edição do Kindle.


Depression (CBTwithChildren, AdolescentsandFamilies) 1stEditio. Chrissie Verduyn (Author), Julia Rogers (Contributor), Alison Wood (Contributor).


If Your Adolescent Has Depression or Bipolar Disorder: An Essential Resource for Parents (Adolescent Mental Health Initiative) by Dwight L. Evans M.D. (Author), Linda Wasmer Andrews (Author).


Feeling Blue : A Guide to HandlingTeenageDepression Paperback–January 1, 2009 by Carolyn Fung, Daniel; Ang, Rebecca P; Kee (Author)





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