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O IMPACTO DAS REDES SOCIAIS NA SAÚDE MENTAL DE ADOLESCENTES



Hoje, no Brasil e na maior parte do mundo, as redes sociais são quase que onipresentes na vida dos adolescentes, mas será que essas redes podem impactar na saúde mental desses jovens? Quais impactos elas causam? Será que podem influenciar para o aumento do suicídio? O que pode ser feito para prevenir esse problema?


Essa semana todos acompanhamos a triste notícia sobre a morte do filho da cantora Walkiria, o Lucas de apenas 16 anos, mais uma vítima do suicídio. Pelo que sabemos, ele já sofria de problemas emocionais, mas o gatilho final veio depois de um vídeo gravado no TikTok, onde ele faz uma brincadeira entre amigos, e por causa dessa brincadeira recebe milhares de xingamentos, tendo como trágico final a sua morte.


Dilemas comuns dos jovens atuais podem ser de difícil compreensão para aqueles que não cresceram em um mundo online. Por exemplo: ter mais de 1000 amigos no Facebook, mas não falar com nenhum, ficar triste ao receber poucas curtidas ou ver seu conteúdo flopar (não ter muitas visualizações) ou chorar ao ler comentários negativos em suas publicações.


No entanto, essa é uma manifestação natural da busca por aprovação, tão comum na adolescência, mas que tem assumido novas configurações. Hoje o jovem busca aceitação em um mundo de mídias digitais, no qual a sociedade dos canceladores online domina e espalha suas opiniões e criticas doa a quem doer. É evidente que isso pode trazer um alto risco de sofrimento emocional para um grupo que ainda está aprendendo a lidar com suas emoções.


Qual é o alcance dessas redes sociais? O Brasil é o quinto lugar com mais pessoas conectadas nas redes, somente na metade de 2020, 141 milhões de brasileiros estavam ativos. Em 2021 as redes mais utilizadas no Brasil segundo o relatório Digital 2021 foram: Youtube (96.4%), Facebook (89.8%), Instagram (86.3%), Twitter (51.6%), e TikTok (47.9%).



Por que adolescentes usam tanto as redes sociais?


Essas redes permitem que os jovens consigam manter contato com seus amigos, existe algo mais comum que o desejo por socialização nessa fase? Isso não é novo, os adolescentes de todas as gerações sempre procuraram maneiras de interagir com os amigos, ficando no pátio da escola no final das aulas ou até mesmo no parque da cidade, a diferença é que agora eles têm as plataformas online para isso. Logo, a principal motivação é justamente a socialização, algo extremamente valorizado pelos adolescentes. Podemos dizer que a maioria fica online para:


  • Falar com amigos; ·

  • Conhecer novos grupos e pessoas;

  • Ficar atualizado sobre novidades e eventos;

  • Ou ainda para passar o tempo quando estão entediados (o que também é mais comum do que se imagina nesses anos).


Será que existem benefícios nessas redes?


Sem dúvida, nós sabemos que estar socialmente conectado é fundamental para o desenvolvimento psicológico de qualquer pessoa, e hoje isso acontece no insta, no Facebook, TikTok e outros meios digitais, e apesar dessas ferramentas não poderem assumir todo espaço de socialização (isto é, o adolescente ainda precisa de encontros pessoais, do contato olho a olho) Ao se conectar com outras pessoas através das mídias sociais, eles têm a possibilidade de: ·


  • Desenvolver melhores habilidades sociais;

  • Se sentir menos isolado;

  • Aprender sobre diferentes culturas,

  • Usar de sua criatividade para impactar outras pessoas positivamente.


Inclusive adolescentes depressivos podem se beneficiar das redes, desde que façam bom uso dela. Estudos de Frost e colaboradores, mostraram que um terço dos jovens com histórico de automutilação, haviam usado a internet para buscar ajuda. Mais da metade deles disseram que encontraram mais suporte disponível online do que offline. Exemplos de sites que fornecem apoio para pessoas buscando informações sobre suicídio na internet são: https://www.cvv.org.br/ e https://www.setembroamarelo.com/



O lado negativo das redes sociais.


No entanto, como em qualquer tecnologia, existe um lado perigoso nessas mídias, estudos sugerem que as redes sociais podem ter um impacto negativo sobre adolescentes que sofrem ou estão vulneráveis para doenças mentais. O Instituto Nacional de Saúde Mental dos Estados Unidos, diz que a prevalência de transtorno mental ao longo da adolescência é de 49,5%, sendo que em jovens adultos (18 a 25 anos) é onde existe a maior incidência de problemas psicológicos. Ou seja, o público que mais utiliza as redes sociais, é o público que mais está propenso a desenvolver problemas emocionais.


De acordo com um relatório de 2018 emitido pelo GlobalWebIndex, jovens entre 16 e 24 anos passaram em média três horas online nas redes sociais diariamente. O que é um mega problema segundo o JAMAPsychiatry também dos EUA, conforme o órgão, adolescentes que usam as mídias sociais por mais de três horas por dia “podem estar em alto risco para problemas de saúde mental”.


Já segundo o PewResearch Center, um em cada seis adolescentes experimentou ao menos uma das seis formas de comportamento online considerado nocivo:


  1. Xingamentos (42%)

  2. Foram vítimas de boatos (32%)

  3. Receberam imagens explícitas não solicitadas (25%)

  4. Tiveram sua localização rastreada por alguém que não os pais (21%)

  5. Alguém fazendo ameaças físicas (16%)

  6. Tiveram imagens explícitas deles compartilhadas sem o seu consentimento (7%)


O problema do suicídio entre jovens.


O suicídio é a segunda principal causa de morte em jovens de 10 a 24 anos, e um estudo publicado em 2019, por Sedgwick e colaboradores encontrou associação entre o aumento do tempo de tela e a piora na saúde mental dos jovens, encontrando inclusive associação entre cyberbullying e comportamento suicida.


O que se percebe é que a exposição às mídias sociais/internet tem o potencial de reforçar pensamentos e comportamentos negativos. Se um jovem tem uma autoimagem ruim, ou crenças de incapacidade, desvalor e desamor, as interações nessas mídias podem potencializar essas crenças. Os autores vão dizer, por exemplo, que existe uma associação entre comentários críticos no Instagram com aumento nos comportamentos de autoagressão.


Jamie Zelazny, professor da Faculdade de Medicina da Universidade de Pittsburgh, observou que as taxas de suicídio triplicaram entre jovens de 10 a 14 anos, assim como entre as meninas nos últimos anos. Em seus estudos Zelasny diz que o uso de redes sociais entre adolescentes pode estar ligado à baixa autoestima, a uma imagem corporal negativa e ao aumento nos comportamentos de risco.


Em uma de suas pesquisas, Zelazny e colegas analisaram 15 adolescentes com comportamento suicida. Esses jovens participaram de três grupos focais e preencheram questionários que trouxeram informações relevantes sobre as consequências positivas e negativas do uso das mídias sociais.


Os resultados mostraram que 67% dos participantes relataram se sentir pior sobre suas próprias vidas devido às mídias sociais, 73% se sentiram pressionados a postar conteúdo que valorizasse sua aparência para outras pessoas, 60% se sentiram pressionados a criar conteúdo visando curtidas e 80% relataram ter sido afetados pelo drama nas redes sociais.


Por outro lado, 73% relataram se sentir apoiados nas redes sociais em tempos difíceis, 53% se sentiram mais conectados aos sentimentos de seus amigos e 93% se sentiram mais conectados à vida de seus amigos.


O que fica evidente é que não é a rede social por si a fonte do problema, mas o contexto e a maneira em que essa rede está sendo utilizada, além de outros fatores que podem somar negativamente para o desenvolvimento de problemas, por exemplo:


  • Uso excessivo;

  • Uso trazendo problemas no sono;

  • Cyberbullying;

  • Exposição à automutilação/conteúdo suicida;

  • Inautenticidade/ser falso para si mesmo;

  • Comparação social negativa;

  • E pertencimento frustrado / necessidade não atendida de se conectar com outros.


Assim como existem fatores protetores, isto é, que ajudam para o bem-estar e uso equilibrado das redes sociais, tais como:


  • Obter apoio e incentivo;

  • Sentir-se conectado aos amigos;

  • Engajamento social ou incentivo para participar da interação social;

  • E capacidade de se expressar e falar livremente.



Como identificar um problema?


Nem sempre é simples identificar quando algo está errado, no entanto, existem algumas pistas visíveis por isso é importante ficar de olho em comportamentos como:


  • Baixa motivação para atividades offline;

  • Pouca interação quando está pessoalmente com outras pessoas;

  • E Problemas na autoestima.



Dicas e Recursos para Adolescentes


Os principais passos para prevenir os efeitos negativos do uso das redes sociais pelos jovens estão focados na importância do diálogo e troca de informações sobre os perigos que esses serviços podem ter, para isso é importante:



Definir limites claros sobre a quantidade de tempo gasto online;


Uma pesquisa publicada no Journal of Social and Clinical Psychology descobriu que jovens que limitaram seu tempo no Facebook, Instagram e SnapChat a 10 minutos por dia ou um total de 30 minutos de uso para todas as mídias sociais eram geralmente mais positivos e tinham uma melhor percepção de si mesmos. Outros que limitaram o uso das redes sociais a 30 minutos por dia relataram menos depressão e solidão após três semanas.



Estar ciente de quais sentimentos tenho quando estou utilizando as redes sociais:


Os jovens naturalmente se comparam com as pessoas com quem interagem nas redes, o que pode ser prejudicial quando afeta a sua autoimagem. Para compensar a tendência natural de se compararem com as pessoas com quem interagem online, os jovens precisam lembrar a si mesmos que as mídias sociais fazem com que as pessoas e as coisas pareçam melhores e mais atraentes do que na vida real.


Conclusão:


Não podemos demonizar as redes sociais e a recomendação não é cortar todas as midias que os adolescentes tem acesso, no entanto é fundamental que os jovens sejam acompanhados nessa utilização, até que estejam capazes de gerenciar melhor suas decisões. Isso significa que os pais precisam seguir seus filhos nas redes, acompanhar as publicações de seus status (caso os jovens não tenham bloqueado essa visualização) interagir com eles sobre elas, e estarem atentos para sinais de depressão ou problemas emocionais.



REFERENCIAS:


https://onlinedegrees.unr.edu/online-master-of-public-health/impact-of-social-media-on-youth-mental-health/


https://blogs.correiobraziliense.com.br/servidor/numero-de-usuarios-de-redes-sociais-cresce-quase-40-em-2020-e-supera-projecao/


https://journals.lww.com/co-psychiatry/fulltext/2019/11000/social_media,_internet_use_and_suicide_attempts_in.12.aspx


https://www.healio.com/news/psychiatry/20201005/social-media-use-may-play-important-role-in-youth-suicide-expert-says


https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC3477910/


https://parents.au.reachout.com/skills-to-build/wellbeing/social-media-and-teenagers



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